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montesclaros.com - Ano 25 - quinta-feira, 28 de março de 2024
 

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Mensagem: Ô abre alas, que os catopés, marujos e caboclinhos vêm chegando! Em agosto, a velha cidade acorda. Montes Claros, avozinha, enfeita-se toda mocinha, com fitas, cores e estandartes. Sopra um vento norte, que entra pela frincha das portas, invade a quietude das salas e se esgueira pelos cantos das casas, acariciando a alma da gente. Em agosto, mês festeiro, pouco a pouco, abrem-se as janelas, debulham-se os terços, varrem-se os terreiros, como se tudo se preparasse em ritmos e pausas. Em agosto, os cheiros também se preparam em fornadas de biscoitos, cachaça da boa, carne de sol de dois pelos, fritando nos braseiros. Em agosto, alguma coisa sagrada se prepara e se anuncia. Quem vem chegando, não pede licença; ocupam as ruas, dobram as esquinas, acordam as lembranças, escrevem histórias. Quem vem chegando, com vento, festa e alegria, traz um canto longínquo, entoado antes de mim, antes de meus avós, antes mesmo das casas dos homens que aqui ficaram. Um canto de África e das naus portuguesas e um canto dos povos que aqui habitavam. Quem vem chegando, quem vem de lá? Os catopés, os marujos e os caboclinhos. Eles vêm festejar o Divino, São Benedito e Nossa Senhora do Rosário. E trazem os sons das irmandades pretas, as cores das pajelanças e as naus dos europeus na rica mistura dos povos que nos habitam. Antes deles, as pedras da cidade pulsam, como que anunciando. E nossos corações pressentem. Caixas, tamborins e pandeiros estão chegando. A mão preta que dita o compasso da festa convida e atiça. Há uma energia ancestral que dança na rua, brinca com os santos, ergue os mastros, saúda os passantes. Há uma história sendo desfiada em todo pé que desfila, em todo menino que passa, em cada mulher que se enfeita. Em agosto, há cortejos, reinados, brancos, pretos e indígenas, ritmo, música e adoração. Em agosto, a história da formação do povo brasileiro é encenada nas ruas de Montes Claros, na celebração dos diferentes povos que forjaram nossa alma mestiça, nossos vários falares. Em agosto, a nossa identidade se revela, em passos brincantes, batuques e cantorias. Os mastros encenam nossa fé brasileira - mestiça, sincrética e feliz manifestação do povo que nos habita. Em agosto, tudo se prepara, tudo se realiza e tudo é performance de uma história que não pode ser esquecida. Todos sabem, todos cantam, ninguém esconde do outro que, em agosto, na verdade, Montes Claros mostra sua verdadeira alma. Ivana Ferrante Rebello Presidente da Academia Montes-clarense de Letras (Esse texto é dedicado ao Mestre Zanza. Aos catopés, marujos e caboclinhos. E à querida Felicidade Tupinambá)

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